Não interessa aos libertários saber quantos são, pois nas suas hostes não se recrutam agentes do poder e muito menos se atribuem números aos militantes. (carlos fonseca)

"Sou um bug ou dois na minha vida". (lena berardo)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Para a minha tia querida

Passeio por mundos através da minha janela,
Onde não posso ir e que invento possuir,
Vidros que são grades que não me deixam partir,
Estilhaços de alma que me obrigam a fugir.
Ouço a panela e o fogão a cantar,
Cantigas que me fazem cozinhar
O melhor do que há em mim.
Satisfaço-o com doces, não muito por causa do colesterol,
Salgados, não muito por causa da tensão,
E vou ao pão, todos os dias sem excepção.
E vou para a minha janela
Cheia de resignação.
A roupa lavada,
A casa arrumada,
E o chá para as tias, que faço com devoção.
Não todos os dias ou todas as semanas,
Que a vida não deixa.
E vou para a minha janela,
Com o coração na mão,
para ver onde ele anda,
para ver quando volta,
(não é que queira muito... mas quero),
Desde que não tenha mais alguma inflamação...
Filhos não há,
(não pode, estragou-se. queimou-se no fogão da vizinha).
Um sobrinho -luz dos meus olhos - e uma sobrinha com cabelos louros e compridos que enfeito com canudos e fitas coloridas.
E vou eu para a janelinha.
Ver o mundo do meu bairro,
A vida dos outros,
(sem delas falar, claro, que isso não é de gente bem educada),
E a minha cabeça,
À janela consente... consente... consente...
E ninguém me vê de dentro...
(Parece-me que só ela ali calada a olhar para mim, enquanto estuda a maneira de não ter que viajar também por esta minha janela,
ou por outra que seja dela).
Só me vêem por fora,
Da minha janela de onde eu passeio todos os dias.

Nenhum comentário: