Não interessa aos libertários saber quantos são, pois nas suas hostes não se recrutam agentes do poder e muito menos se atribuem números aos militantes. (carlos fonseca)

"Sou um bug ou dois na minha vida". (lena berardo)

sábado, 21 de maio de 2011

A metafísica da geração pós à rasca, digo, espontânea


Eu sou engenheira e não percebo nada de questões filosóficas e de metafísica. Segundo me lembro das aulas do liceu a geração espontânea não surgia do nada. Surgia sim de amontoados de lixo. Nasciam ratos. E uma experiência científica tem sempre reconhecimento científico. Não me estou agora a lembrar de nenhuma que não tivesse. Eu achava a minha professora do liceu um pouco básica porque estava sempre a dizer que precisava de uns "pálitos" nas pálpebras, ela dizia olhos, porque tinha muito sono. Nós, eu e o resto da turma gozávamos ríamos com ela porque sabíamos que ela se tinha casado há muito pouco tempo e só queria falar disso.
As minhas aulas de educação sexual foram feitas na rua, em conversas parvas ou sobre pensos higiénicos, e nas aulas de biologia, com uma professora casada de fresco. O Fresco é um colega de faculdade (outra) que depois reencontrei quando me tornei eu também professora, de matemática, e que não tem relação nenhuma com isto. Também não tínhamos dinheiro para nada mas fazíamos muitas festas nas garagens das casas dos nossos pais. A minha filha não tem amigos que façam festas em garagens. Mas todos têm motorista pessoal: os pais. A minha filha também tem: mim pipópia, como dizia o Nuno quando era pequeno. Agora está maior que eu e já não diz isso. Diz que não quer estudar. Acho que o meu filho vai perceber muito de metafísica porque como ele tem tudo o que precisa e não precisa e internet, tem mais possibilidades de acesso a informação que eu tive, que só lia livros. O estranho é que ele também lê livros.
Acreditem que se ele alguma vez souber o que é a metafísica foi um fenómeno de geração espontânea porque eu, na maioria das vezes no meu local de trabalho, sinto-me lixo.
Mas não tenho preconceitos sexuais.

Post Scriptum: Escrevi duas vezes matafísica em vez de metafísica.

5 comentários:

Ozoo disse...

Bem bem, você, Lena Berardo, anda lendo muitos BD comics do underground, o que lhe provoca visões de ratos a nascerem do lixo, espontaneamente, entre outras digestões sociais. :)

A geração espontânea não existe. Foi um mito «científico» que era aceite na antiguidade, numa era pré-científica, em que ainda não se conheciam o infinitamente grande, nem o infinitamente pequeno. Mais tarde, séc 17 e 18, com revoluções na praticabilidade da observação científica, é que se destruiu esse mito, que afinal era um simples, mas muito rude, erro de observação. Ora, a geração espontânea era a crença de que certos animais surgiam, de forma espontânea, ou seja, não pela normal reprodução sexuada dos mamíferos e outros animais, da matéria orgânica em decomposição: carne, fezes, bio-lixo, etc. Como por exemplo as moscas, os vermes, as larvas, insectos, essas coisas que rodeiam o escatológico... pensava-se, suportado, sobretudo, pelas investigações da natureza de Aristóteles, na geração espontânea, crença que era presente desde civilizações mais antigas como a China, Babilónia, Egipto, Índia... na idade média continua-se a acreditar na treta, sobretudo porque a ciência e a filosofia eram condicionadas pela teologia. Até o Descartes e o Newton acreditavam na balela. Basicamente, o que Aristóteles dizia era que a matéria seria o «princípio passivo», e a forma, o «princípio activo». Tudo o que existia, no biológico, resultaria na junção, sempre que houvessem condições favoráveis, destes princípios. O P. Activo «informaria» a matéria, dando-lhe a forma, ou seja, a geração vital, da vida.

A partir de 1700 é que se começa a por em dúvida a teoria. Com as pesquisas de Redi, Leeuwenhoek (que «inventou» o microscópio; a janela para o infinitamente pequeno), Joblot...

É óbvio que a geração espontânea não existe. O que existe é que, tudo o que nasce da matéria em putrefacção, «do lixo» é o resultado da inseminação, da reprodução sexuada, de certos animais que usam o orgânico em decomposição para depositar os ovos, servindo-lhes, ao verme, para sua alimentação e desenvolvimento. Não há magia nenhuma.

Foi Pasteur quem, com experiências que hoje são muito famosas e contribuiram de forma fundamental para o refinar do metódo científico, descartou de vez a teoria da geração espontânea e abriu portas à dimensão evolutiva do biológico. Um pouquito mais tarde surge Darwin, e a revolução estava feita; adicionando-lhe o «tempo» como principio activo, que até ali não era considerado. As coisas eram porque eram. Passaram a ser porque foram de outro modo. Mutatis Mutandis.

Na ciência moderna, na biologia, a hipótese que existe, ao nível molecular, da origem química da vida, é a abiogénese, que estuda a possibilidade do vivo surgir da matéria não viva, de origem não biológica. Ou seja, se é possível ocorrer a síntese biológica a partir dos elementos químicos que povoam o espaço, «acabadas», em reação com propriedades que lhes são autónomas (luz, calor, tempo, espaço, bla bla), entre si. Começa com Oparin, Halden, Urey, por Miller, Dawkins... tudo ao nível molecular, químico, miscroscópico.

Até hoje só se pode, no máximo, especular...; não se faz a puta da mínima ideia de como surgiu, de como ocorreu a síntese da mais pequena e ordinária célula viva, dada a sua complexidade e acerto. Dão-se ideias, que experimentadas, sugerem sempre que, a vida, só poderia ter surgido de um pré-existente vivo. «Em biologia o nada não existe». Não partes do nada. Do não-vivo para o vivo. É o que tudo sugere.

A abiogénese não é uma coisa tida muito a sério hoje, e a conhecida antiga teoria da geração espontânea aristotélica, é uma anedota. :)

joaninha versus escaravelho disse...

Ozoo, agradeço o tratado que aqui me deixou. Estava a ler, a lembrar-me das minhas professoras de biologia e dos seus debitares de matéria (não no sentido de matéria com átomos - e electrões que me fazem ganhar a vida).
Gostei de relembrar. :)
Mas o interessante dos seres humanos, não interessando a sua forma de aparecimento, é que desenvolveram capacidades, quiçá já dos genes ancestrais, humorísticas. Há quem diga que há outros animais que se riem. Também não sei se é assim ou se essa ideia foi gerada por nós, humanos... Temos capacidades a tender para o infinito, neste caso o positivo.
Gosto de brincar com a minha vida.
Faz parte da minha higiene mental.
Seja bem vindo! :)

joaninha versus escaravelho disse...

Ozzo, copiei isto da sua página: "...o homem ignorante é guiado pela fé na eficácia das combinações, uma fé que se mantém viva pelo facto de muitas combinações serem realmente eficientes, mas que surge não obstante espontaneamente no seu interior... Vilfredo Pareto"

Pode dizer-se que a fé é de geração espontânea. :)

Ozoo disse...

Olhe, eu já sou um conhecido seu, espero que anote o facto, mesmo que lhe seja muito desagradável, o que tem grande probabilidade de ser. Ozoo = LN, espero que se tenha dado conta num comentário anterior que fiz, por aí num post violeta (bom gosto) destes que vão fazendo o conteúdo deste cyber-space. Escrevo no tumblr porque o meu blogger pifou.

joaninha versus escaravelho disse...

Ozoo, o menino, já lho disse várias vezes, tem um problemazito comigo para resolver, que me ultrapassa.
Não dei por nada acerca de igualdades de nick´s que andam aqui no meu blog em comentários - porque responde sempre, desde que não sejam escritos para provocar ou ofensivos - porque não estou preocupada com quem lê ou comenta.
Valeu o esforço de recolha dos dados que estão no comentário acima.
Já agora a que blog se refere? O seu...