A saga continuou e não havia meio de parar.
Primeiro foi com os tapetes que até na cara me bateram e depois as migalhas...
Todos os dias ou dia sim dia sim, eu via-me na contingência de limpar o parapeito da janela ou a varanda da cozinha várias vezes por dia.
Os ET´s comem muito pão, sim porque as migalhas de bolo não têm sido comuns. Provavelmente arranjaram algum Sócrates lá no planeta deles e andam com falta de dinheiro para bolos...
Mas não tenho pena deles, não senhora.
Por vezes havia bocados de guardanapos de papel ou bocados de batatas fritas ou arroz...
Era assim:
Levantava-me, abria a janela da sala e pimba: Migalhas.
Limpava ia trabalhar e quando voltava pimba: mais Migalhas.
Depois do jantar a cena repetia-se e isto depois de ter feito diversos esforços e ter tido várias conversas com vários ET´s, aqueles do condomínio e inclusive com os que gostam tanto de me presentear com as migalhas. Numa destas sextas-feiras perdi a cabeça.
Ia para sair de casa, para ir para Coimbra, cheia de pressa, como sempre para não chegar atrasada, e ao fechar a janela da sala vejo as ditas cujas.
Como era de manhã e eu não tinha bebido café e antes de beber café falo pouco, peguei numa carta que tinha escrito já há umas semanas e que estava em cima da mesa da sala, à espera do momento ideal para a colocar no correio.
Sim, foi premeditado. Aliás, não foi bem isso. Eu é que não tinha coragem para fazer o acto a que me tinha proposto e andava a ameaçar já há algum tempo.
Tinha então escrito uma carta onde reclamava das migalhas e onde repetia que já tinha falado e pátati pátata e deitei lá para dentro um montinho, um monte, um grupo de migalhas que fui buscar à cozinha. Ao texto da carta juntei a justificação do porquê das migalhas irem dentro do envelope e disse:
"Junto envio algumas das suas migalhas que me tem dado todos os dias, mas sinceramente não necessito delas. Caso torne a encontrar algumas devolverei novamente."
E meti a carta na caixa de correio dos meus vizinhos ET´s.
Fui para Coimbra e nunca mais me lembrei.
Voltei e vi tudo limpo. Pensei que tinha surtido efeito.
Mas enganei-me...
Uns dias depois, enquanto tomava o pequeno almoço vejo que estão a despejar as tais migalhas na minha varanda da cozinha. E eu a ver...
Peguei então na pá e na vassoura, varri tudo varridinho, saí de casa, subi as escadas e despejei as migalhas à porta dos meus vizinhos ET´s.
Não me sinto nada bem com estas atitudes, mas pelo menos tem valido a pena. Esta semana não tive migalhas, com excepção de no dia de ontem ter encontrado algumas no canto oposto da varanda.
Vou aguardar de vassoura na mão.
Noite ácida.
Há 4 horas
4 comentários:
Com cara de má e de vassoura na mão... não saia a voar pela janela senão vão lhe chamar outra coisa.
É mesmo isso que me sinto. Não tenho orgulho nenhum do que fiz mas o desespero de andar há mais de dois anos a apanhar migalhas também torna os meus dias ridículos. Até que se extrapolo para o geral vou ficar a sentir-me pior.
Olhe, assim pelo menos não podem dizer que fico com o que não é meu. :)
A certa altura morei num bairro de pescadores. a minha vizinha de cima já completamente ché ché atirava o mijo do penico pela janela e pingava sempre para a minha varanda e baptizava quem ia a passar. Quando um transeunte legitimamente irritado lhe gritava.
-Ó sua badalhoca! vá atirar o mijo
para a..(etc)(era questão de uma tia)
Ela respondia ainda com o penico na mao:
- Eu? eu ia lá fazer uma coisa dessas.
já se sente melhor, joaninha?
Já, sim. :)
(que nojo...) :D
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