A trovoada acordou-a. Levanta-se e vai tomar banho depois de preguiçar 45minutos na cama. É difícil levantar-se.
Lava-se. A pele fica marcada das unhas. Tem necessidade de tirar todas as células mortas que a cobrem. Como se assim ficasse mais pura. Mais viva.
Durante o dia sente as suas células a morrerem. Pensa que é do calor que a faz transpirar ("sentir o corpo respirar até ao ponto de partida... e matar... com a pistola mais comprida" - lembrou-se. Já há uns anos que vivia no meio da misoginia e nem dava por ela.)
Nesse tempo era pura. Não tinha necessidade de escavar a pele com as unhas que tinha deixado de roer. Vendo bem, até as unhas se descascavam. Como a pele. E a alma. E o útero. Pensou: ando a pensar muito no útero.
Continuou nas suas tarefas de mulher, com a atenção sempre interrompida pela sua condição feminina de quem tem concentração de peixe.
Mexilhão, lembrou-se. Alusão a bivalves. Não gosta.
Não gosta de muita coisa, acaba por admitir.
Pensava-se mais tolerante.
Não é.
quarta-feira, 21 de abril de 2010
Qualquer semelhança com a realidade faz parte da cena
Desabafo de
joaninha versus escaravelho
pelas
20:26
Cromos autocolantes
As Mãos e os Frutos,
Devaneios
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário