Não interessa aos libertários saber quantos são, pois nas suas hostes não se recrutam agentes do poder e muito menos se atribuem números aos militantes. (carlos fonseca)

"Sou um bug ou dois na minha vida". (lena berardo)

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Qualquer semelhança com a realidade faz parte da cena

A trovoada acordou-a. Levanta-se e vai tomar banho depois de preguiçar 45minutos na cama. É difícil levantar-se.
Lava-se. A pele fica marcada das unhas. Tem necessidade de tirar todas as células mortas que a cobrem. Como se assim ficasse mais pura. Mais viva.
Durante o dia sente as suas células a morrerem. Pensa que é do calor que a faz transpirar ("sentir o corpo respirar até ao ponto de partida... e matar... com a pistola mais comprida" - lembrou-se. Já há uns anos que vivia no meio da misoginia e nem dava por ela.)
Nesse tempo era pura. Não tinha necessidade de escavar a pele com as unhas que tinha deixado de roer. Vendo bem, até as unhas se descascavam. Como a pele. E a alma. E o útero. Pensou: ando a pensar muito no útero.
Continuou nas suas tarefas de mulher, com a atenção sempre interrompida pela sua condição feminina de quem tem concentração de peixe.
Mexilhão, lembrou-se. Alusão a bivalves. Não gosta.
Não gosta de muita coisa, acaba por admitir.
Pensava-se mais tolerante.
Não é.

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