Não interessa aos libertários saber quantos são, pois nas suas hostes não se recrutam agentes do poder e muito menos se atribuem números aos militantes. (carlos fonseca)

"Sou um bug ou dois na minha vida". (lena berardo)

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Afundo-me lentamente


Está escuro.
Escuro e frio.
O tempo teima em doer no peito.
Os olhos estão cansados de olhar o vazio.
O vazio...
O silêncio grita e traz as vozes que a chamam em sonhos.
Só em sonhos.
A alma esquartejada como uma peça de carne exposta na vitrina de um talho de um qualquer supermercado.
A carne desejada, mas cara para um bolsa qualquer.
O preço é alto.

A mente esconde os desejos mais primitivos e envolve o corpo numa áurea que a torna inatingível até mesmo para ela.
O desejo do amor desfaz a parte física desse ser frágil.
Do amor espiritual, claro.
Nada mais importa.
O desinteresse pelas coisas começam a tomar contornos perigosos.
A fuga faz com que se esconda à vista de todos. Durante o dia, em que é suposto andar-se pelas ruas. No trabalho.
Mostra-se uma pessoa normal.
Até dizem que está bem.
Olha para si e não gosta. Pela primeira vez não gosta.
Não gosta do corpo, não gosta da cara, não gosta, principalmente da sensação a que já se começa a habituar. Mas o cansaço já não permite que se mexa e se movimente no sentido contrário ao rumo que parece estar-lhe destinado.
Sim! Parece!
Parece porque embora a relutância em lutar contra ele seja cada vez mais assustadoramente enorme há algo que lhe diz que não acabou. Que não perdeu.
E arrasta-se até poder.
Até um local onde se sinta segura.
Dantes era a sua casa. Agora esse lugar trás-lhe demasiadas recordações que teima por força apagar da memória sem, no entanto, as querer apagar. As contradições do que e como fazer e se fazer ou não deambulam dentro de si.
E apertam e obrigam a pobre da máquina que a sustenta viva, a trabalhar em ritmos desorganizados que causam uma pressão dolorosa e que a obrigam a uma respiração de controlo.
Falta-lhe o ar.
Abre as janelas mas o ar não entra. Há uma barreira que não permite que os bons ventos a ajudem a mudar o rumo.
Mas não desiste...
A lucidez é masoquista.
Seria tão mais fácil pôr um ponto final.
Mas não o faz

( Na minha alma há um balouço, que está sempre a balouçar. Balouça à beira dum poço. Bem difícil de montar. ..... Cortar a corda era fácil. Tal ideia nunca tive.)

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