Sou da cidade.
Gosto do betão. Gosto das ruas que se tornam estreitas pela altura dos edifícios. Gosto das luzes coloridas da noite. Do barulho de fundo do movimento dos veículos e das pessoas. Gosto da solidão no meio de mil transeuntes.
Não consigo imaginar a vida como eremita.
Faz-me falta o cinema, o teatro, a música.
O contacto real com a cultura, a arte, fizeram parte do meu quotidiano desde sempre.
Fui habituada a ir ao cinema como quem respira… Por necessidade.
Fui habituada a ler em todos os bocadinhos que me permitiam fazê-lo, a ir a exposições, museus, concertos de música clássica e actual.
A cultura do “café” também fazia parte dos meus hábitos sociais.
No café conversava-se. Sobre política, o que vem no jornal, que se lê aí mesmo, do que se viu ontem no cinema…
Acabava-se o jantar e a família ia ao café. Para descomprimir.
Conversava-se. De tudo e de nada.
Sou muito cosmopolita.
Tive grandes dificuldades de adaptação a viver aqui, na “serra”. Continuo a tê-las. Penso mesmo que nunca me vou sentir “de cá”.
Há pouco tempo descobri que viver numa “cidade” como eu vivi, afinal tem algumas semelhanças com o que tenho conhecido por aqui.
À excepção da parte cultural (que em OH infelizmente deixa muito a desejar), do ritmo de vida ser mais lento e da solidão ser mesmo solidão, a convivência entre os habitantes é a mesma se nos deslocarmos para a periferia da “cidade serrana”.
Ao fim destes anos (18), descubro que consigo colmatar muitas das faltas que sinto da vida da cidade, com as amizades que fui fazendo aqui.
Os passeios ao rio no Verão, os miradouros, as Antas, as lajes, a paisagem, a neve, a calma e o silêncio, as estrelas, a vista a perder de vista… a lareira…
Moro na Serra há muito tempo. Há demasiado…
No entanto, acho que estou a começar a gostar :)
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