Um dia fui à pesca com o meu pai. Como tantas outras vezes.
Esta foi especial porque me lembro.
Estava sol e fomos para o açude. Era assim que ele lhe chamava e fica à saída de Alcobaça, como quem vai para a Nazaré.
Ainda há poucos anos lá passei e vi a construção de pedra com uma grade de ferro que acaba com pontas de lança.
Tenho ideia de que a parede é amarela.
Era alta e o meu pai pegava-me ao colo, punha-me em cima do muro, que eu vejo hoje como se fosse um pórtico, e eu ali ficava agarrada às lanças.
Ele dava a volta, agarrado com cuidado e fazia uma manobra demasiado perigosa para ser feita por alguém da minha idade. Teria uns 4 anos, talvez. Já não posso confirmar isso com ninguém.
Depois já estávamos junto ao rio, canas na mão.
Lembro-me de que era bonito e lembro-me principalmente do silêncio, do sol, da paz e da felicidade calma.
Picou. Era um peixe grande, pelo menos para mim. O meu pai ajudou-me a tirá-lo da água.
Era pequena. Eu.
Foi o meu primeiro peixe.
Esta é uma parte de que me lembro mas que não sei se por estar presente se por me terem contado.
A parte de saltar o "pórtico" lembro-me bem. Talvez por ter passado por essa aventura várias vezes e sentir medo. Agarrava-me sempre com muita força, com medo de cair.
Afinal o que são memórias?
PS. E do sol. Lembro-me muito bem do sol.
domingo, 6 de junho de 2010
Afinal o que são memórias?
Desabafo de
joaninha versus escaravelho
pelas
11:52
Cromos autocolantes
A vida pura e simples,
Viagens sem pastilhas
Assinar:
Postar comentários (Atom)
10 comentários:
As memórias criam o presente, e o presente cria memória.
Constantemente, sem interrupções. É a vida, vale o que vale.
Podemos então dizer que a vida fazêmo-la nós.
Estamos sozinhos na imensidão de realidades e efeitos...
Só senti solidão após os meus pais terem falecido e os meus filhos me terem abandonado.
Antes disso nunca pensei na solidão.
Mas agarro-me às memórias. Por vezes. Outras não.
Mas a sensação da solidão imposta e não procurada é desagradável.
Memórias...
é o sabor do presente
(vivendo-se)
a morar no futuro
todo por dentro
sem mão que o agarre.
os passarinhos voaram do ninho, mas hão-de regressar, bem grandes, quando forem capazes de perceber (por si) a natureza do saque do passarão.
Completamente desasados... e lá estarão as asas da mãe (eles sabem isso tão bem...) para os guardar, não é?
E a mãe como estará, se agora, antes do eles perceberem isso tudo e entre o espaço e o tempo que para isso falta, já se encontra assim?
1º A mãe-pássaro cuida(-se) (n)a espera. Só acolhe!, não precisa denunciar o que (lhes) será óbvio.
2º É!
Memoria é tudo aquilo que mantem as pessoas e momentos especiais vivos dentro da gente...
Tem uma maneira muito moderna de contar as coisas. Gostei.
Gaby, também existem memórias de maus momentos, especiais por isso mesmo.? Mas recordamos por termos visto e sentido ou porque nos contaram e a nossa imaginação nos faz pensar que as vivemos? :)
Gio, obrigada! :)
Postar um comentário