Epitáfio

Contagem decrescente para o vazio.

Por vezes apetece-me deitar fora tudo o que tenho.
Meter em sacos, empurrar com força para que tudo fique esmagado e sem se poder aproveitar.
Pisar.
Partir.
Escaqueirar.
Amarrotar.
Rasgar.
No último saco vou eu.
Basta um saco pequeno, porque eu nem sou muito grande.
Nem por dentro...
Devo ser muito pequenina atendendo ao valor que me dão.
Já me trespassei, já coloquei o coração à venda. E nada...
Nem um centavo.
Nada ofereceram por mim.
Minto. Houve alguém que me tentou animar.
Um amigo... quem mais poderia ser.
Depois de tudo embalado, por mim, é tudo colocado no lixo.
Nada de reciclagens, que eu sou contra isso.
Nada de politicamente correcto.
No meu fim quero levar comigo o meu espírito punk.
Para que não doa tanto como dói agora.
Quando estou zangada, com o mundo ou com alguém, os gritos por dentro são tão altos que não ouço o coração a queixar-se.
Não ouço a Alma.
E quando me colocarem no lixo não quero que fique cá nada.
Não quero que me lembrem por bibelôs, por livros, por cenas que não têm interesse a não ser para mim.
Vai tudo comigo.
Para o lixo.

Será que é por gritar tanto por dentro que não gosto nada de barulho?

Mas o telemóvel podia tocar de vez em quando...
Assim já não pensava tanto...

P.S. No saco onde vou quero levar um xilofone. Por favor!
P.S.2 Tocou agora o telemóvel... :/