Não interessa aos libertários saber quantos são, pois nas suas hostes não se recrutam agentes do poder e muito menos se atribuem números aos militantes. (carlos fonseca)

"Sou um bug ou dois na minha vida". (lena berardo)

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Não leio revistas enquanto espero


Esperar.
Sentada espero.
Decido beber um café. O cansaço inerente ao estado de ansiedade obriga à oxigenação das células cerebrais.
"20cent". Barato, pensei, na minha escola pago 40cent.
Ao lado alguém diz:
-Só pode dizer que lhe dói a perna.
Um homem sentado segura uma revista na mão. Uma revista feminina. Levanta a cabeça. O olhar vagueia pela sala. Pequena e de cadeiras azuis. As paredes manchadas das cabeças encostadas. O olhar, perdido, procurava alguma coisa que não encontrou e pousou outra vez na revista. Continuou a folheá-la e ficou alheio ao resto durante mais algum tempo.
Um miúdo segura também uma revista. Faz o que vê fazer nas salas de espera. Mesmo que não se leiam. Mesmo que não se goste. Matar o tempo. Não pensar porque se está ali. Passar o tempo mais rápido. Como se se passasse o tempo mais rápido deixasse de ser perdido.
Esperar é perder tempo. Mesmo que nesse tempo, noutro lugar qualquer não se estivesse a fazer nada de realmente importante.
A vida é mesmo assim. Momentos intensos e momentos mortos.
Alguém diz ao miúdo:
- Não se quer aqui barulho.
Foi o que eu ouvi. Só ouvi isso.
- De atestado na mão...
- Descobriu-se que o advogado era dos dois lados.
Ambidextro, pensei com um sorriso em pensamentos.
- O senhor diz que quer ir a casa dele.
Frases sem nexo que agarrei no meio dos meus pensamentos que tinha para ocupar a mente enquanto o tempo passava.
E eu esperava.
Olhei. As revistas continuavam a ser folheadas.
O homem da revista tira um pente e penteia o miúdo.
- É pá! Estás a aleijar-me. Vai chatear outro!
- Oh, oh!
- E tu também!
Silêncio.
O miúdo arruma as revistas em cima duma cadeira. Azul.
- Está bem assim?
Passa um homem com um escadote. Bate a porta com força.
- Ah valente! diz o miúdo.
E continua:
- Dia 20 é quarta feira. É a minha viagem.
- Eu acho que é só dia 28. Ainda não pediram o dinheiro.
O tempo vai correndo. O miúdo cansa-se e levanta a bata de um manequim.
- Ahahaha, ri-se um avô e uma avó.
O outro avô levanta-se. O miúdo levanta a bata do manequim novamente.
Pás! palmada no rabo do miúdo.
- Deixa-me. Larga-me. És mau!
Beiço esticado.

- Ai, ai, meu Deus... suspira a avó. Para conter o grito de dor da palmada que não levou.

Chamam-me.

7 comentários:

Gaby Almeida disse...

Por isso sempre trago um livro na bolsa, os momentos de espera ficam menos inuteis...

joaninha versus escaravelho disse...

Adoro ler! É mesmo como ocupo a maior parte do meu tempo, mas nestas alturas, muitas vezes prefiro "ler" ao vivo. O que ali "li" foram cenas de uma vida familiar, despreocupada dos "intrusos". Vidas simples.
Gosto de "ler" as pessoas também :)

Fragoso disse...

Nem a Ana mais atrevida? lol

joaninha versus escaravelho disse...

:/ nem sei que revista é essa de que falas... é como com as telenovelas. Sou uma inculta! :/ ahahahahah

Fragoso disse...

lol... é das melhores que há por ai!(not)
Por acaso quando vou ao dentista, acabo sempre por saber quem é o novo namorado da Carolina do Mónaco de à 2 anos atrás :P

joaninha versus escaravelho disse...

OMG! O que eu ando a perder... ahahah

Fragoso disse...

:D