Não interessa aos libertários saber quantos são, pois nas suas hostes não se recrutam agentes do poder e muito menos se atribuem números aos militantes. (carlos fonseca)

"Sou um bug ou dois na minha vida". (lena berardo)

sábado, 25 de abril de 2009

É Proibido Proibir


As minhas primeiras lembranças de liberdade são de quando tinha 4 ou 5 anos.
O meu pai convidava amigos para irem festejar o Ano Novo lá em casa.
Fazia-se uma festa!
Até havia espumante... e o barulho da tampa a sair fazia o meu coração bater com mais força.
Eu adorava aquilo!
Eram só adultos, que eu ia conhecendo melhor porque lá voltavam todos os anos no mesmo dia.
Havia um que aparecia mais vezes.
Sei que andava a estudar Direito em Coimbra, tinha barbas e cabelos pretos e eu tinha uma verdadeira paixão por aquele rapaz que só via quase em dias de festa. :)
Não me recordo do nome e também já não tenho hipótese de o saber. Não tenho a quem perguntar.
Desses dias não me sobra ninguém. Mesmo o meu irmão nasceu depois...
Lembrei-me destes dias de festa por hoje ser 25 de Abril.
Nestas noites tinha licença para ficar acordada até mais tarde.
Desde esta altura que me lembro de ouvir as músicas que hoje se ouviram na televisão, na rádio, na rua na festa a que fui. A tal Corrida pela Liberdade.
Sabia-as de cor.
Cantava com eles, sim porque nessas festas lá em casa cantava-se.
"Grândola vila morena..."
Falava-se de Marcelo Caetano. Sempre em tom depreciativo e depois falava-se de Zeca.
Sabia lá quem era Zeca Afonso... mas que sabia as músicas dele, lá isso sabia. :)
Mas também me lembro muito bem do que me era dito.
Não podia dizer a ninguém o que se passava lá em casa. Não podia cantar aquelas cantigas em lado nenhum.

O meu avô e o meu tio tinham estado presos em Caxias.
Que a empregada da minha avó tinha feito um pedido à empregada de Salazar para o meu avô ser liberto, apelando ao facto de ele ter muitos filhos para sustentar... :)
E lá voltou ele para casa.
Trabalhava na polícia, o meu avô. Na secretaria.
O meu avô que me ensinou a gostar de ópera... :)

Sempre me falaram da ditadura, apesar de no início eu não ter grande noção do que era isso da ditadura.
Mas já aí o proibido me atraía.
Talvez fosse mesmo isso, que me fez ter queda para fazer tudo aquilo que é proibido...
Para mim ser livre é poder fazer o proibido.

E mais uma vez me apercebo, agora, que estou mais livre do que nunca.
Mas não queria... :(

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